As Meninas do Brasil: quando a infância é roubada e o silêncio grita
Por Zé da Legnas
Elas deveriam estar brincando, estudando, sonhando.
Mas, no Brasil, milhares de meninas têm a infância arrancada antes mesmo de aprender o que significa ser criança.
Enquanto o mundo gira, 56 mil meninas com menos de 14 anos foram vítimas de estupro de vulnerável apenas em 2024. São números que não cabem no coração — porque cada um deles tem nome, rosto e uma história que o país fingiu não ver.
Essas meninas não precisam de piedade. Elas precisam de proteção, voz e justiça.
E o primeiro passo é encarar o problema que o Brasil insiste em esconder: o casamento infantil, o trabalho forçado, o abuso sexual e a violência legalizada pela omissão.
Casamento infantil: uma ferida aberta em silêncio
A lei brasileira diz que é proibido casar antes dos 16 anos. Mas a própria lei abre brechas: adolescentes entre 16 e 18 anos ainda podem casar com autorização dos pais ou da Justiça.
Na prática, isso significa que meninas continuam sendo entregues a homens adultos, muitas vezes sob a desculpa de “garantir o futuro” ou “preservar a honra da família”.
Essas histórias não acontecem apenas no interior distante. Estão nas cidades, nos bairros populares, nos lares onde o medo fala mais alto que o amor.
O que parece tradição, é violência travestida de costume.
A infância que trabalha e se cala
Enquanto uns sonham em ser médicos ou professores, meninas brasileiras limpam casas, cozinham e cuidam de outras crianças.
Mais de 60% do trabalho doméstico infantil é feito por meninas. Muitas abandonam a escola e crescem acreditando que nasceram para servir.
Elas não escolhem — são empurradas.
E quando o Estado se cala, ele se torna cúmplice.
As brechas da lei e o peso da omissão
Em 2019, a Lei nº 13.811 proibiu o casamento de menores de 16 anos. Um avanço, sem dúvida.
Mas o Código Civil ainda guarda artigos que abrem espaço para interpretações que legitimam casamentos precoces — especialmente quando há gravidez.
Em outras palavras: a lei que deveria proteger ainda permite ferir.
Há quem tente mudar isso, com projetos para proibir qualquer casamento antes dos 18 anos, sem exceções.
Mas, no Congresso, propostas assim enfrentam muros erguidos por ideologias religiosas, interesses partidários e a velha cultura do “isso sempre foi assim”.
Enquanto os debates travam em Brasília, a realidade sangra nos rincões do país.
A rede que protege — e a ameaça de rasgá-la
Mesmo com leis e conselhos, a proteção real ainda é frágil.
Muitos municípios não têm psicólogos, assistentes sociais ou estrutura mínima para atender meninas vítimas de abuso.
E, para piorar, uma resolução do Conanda, que garante atendimento humanizado a essas vítimas, corre o risco de ser revogada.
Revogar essa norma é como apagar a única luz que ainda guia quem sobreviveu à escuridão.
O que precisa mudar
Proteger meninas não é questão de partido. É questão de humanidade.
O Executivo precisa investir de verdade em políticas públicas — e não em discursos vazios.
O Legislativo deve eliminar brechas que ainda permitem o abuso legalizado.
E nós, sociedade civil, precisamos levantar a voz. Denunciar, apoiar, educar e transformar indignação em atitude.
Conclusão: não é sobre números, é sobre vidas
Cada menina brasileira tem o direito de crescer livre, estudar, brincar, amar — e não temer.
Proteger essas meninas é proteger o futuro do país.
Porque um país que não defende suas crianças não tem futuro, tem culpa.
Agora é hora de agir.
De pressionar, compartilhar, falar sobre isso.
Porque o silêncio, no Brasil, ainda é o maior cúmplice da violência.
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