Extinção do benefício aliado à crescente taxa de desemprego devem colocar milhões de cearenses de volta à linha da pobreza, conforme o Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará (Ipece).
As dimensões dos impactos socioeconômicos gerados diante do fim do auxílio emergencial ainda estão sendo calculadas, mas o aumento do número de pessoas na linha da pobreza já se torna a principal consequência. No Ceará, 14,5% da população havia saído desse patamar com o recebimento do benefício e, com o término, deve retornar à pobreza mais de três vezes esse percentual no Estado, segundo estimativa do Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará (Ipece).
João Mário de França, presidente do Ipece, avalia que além do fim do benefício social, a crescente taxa de desemprego irá contribuir para uma expansão do número de cearenses que se encontram em vulnerabilidade socioeconômica. A quantidade de pessoas desempregadas no Ceará era de 534 mil em novembro último. Segundo dados da Pnad Covid, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), desde o início da pandemia, o crescimento da desocupação passa dos 84%. No início de maio eram 289 mil cearenses sem emprego.
A estimativa feita por ele expressa que, sem o auxílio, 47,5% da população cearense se encontraria vivendo com a média de R$ 27,5 por dia, o equivalente a cerca de 4,8 milhões com renda mensal em torno de R$ 825, valor inferior a um salário mínimo. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatistica (IBGE) considera como linha de pobreza US$ 5,50 por dia, o que daria hoje, aproximadamente, R$ 30.
“Não podemos encerrar o auxílio e voltar para antiga formulação do Bolsa Família, com a mesma abrangência e com o mesmo valor, isso é impossível”, frisou Mário. Para ele, é urgente um debate no País de alternativas para uma redistribuição de renda, que garanta uma maior qualidade de vida para esta parcela da população e também um maior fluxo econômico.
Mário frisa ainda que, com o auxílio emergencial, diversos cearenses tiveram um incremento significativo em suas rendas, enquanto outros puderam efetivamente ter uma renda mensal. “Quem recebia o Bolsa Família saiu de R$ 120 para em média R$ 712, enquanto aqueles que não tinham renda alguma, tiveram garantia de consumo de itens básicos”.
O economista detalha que o auxílio foi fundamental na movimentação da economia cearense, em especial nas cidades com menor potencial produtivo de riquezas. Ao todo, o benefício atingiu cerca de 41% da população do Estado e injetou, ao longo de 2020, cerca de R$ 14 milhões na economia estadual.
A questão social decorrente do fim do auxílio emergencial no Ceará foi debatida por Mário e outros pesquisadores em um encontro virtual na manhã de ontem, 29, promovido pela Secretaria de Gestão e Planejamento do Ceará (Seplag). Secretário executivo do órgão, Flávio Ataliba disse que o mapeamento de beneficiários do auxílio emergencial possibilitou a identificação de cerca de 26 milhões em vulnerabilidade econômica que antes eram "invisíveis aos olhos das políticas públicas”.
No Brasil, conforme detalhou o pesquisador Daniel Duque, do Instituto Brasileiro de Economia, o auxílio emergencial foi capaz de reduzir a extrema pobreza a um dos patamares mais baixos já registrados desde 1980. O benefício fez com que abaixo de 5% da população brasileira se encontrasse vivendo com renda inferior a R$ 258 por mês, enquanto em anos anteriores o percentual estava sempre superior.
Daniel esclareceu ainda que não somente a pobreza foi reduzida pelo auxílio, mas também os índices de desigualdade e defendeu o benefício como um "evento social nunca antes visto" diante da garantia de uma mínima qualidade de vida gerada. “Não é apenas o fator econômico, são possibilidades de melhorias na infraestrutura de moradia dessas pessoas, da garantia de acesso de bens básicos, acesso à escola, saúde, água e esgoto. Para além da política econômica, é uma questão social”, complementou Mário de França.
O POVO Online
De fato, com o fim do auxílio emergencial, os problemas socioeconômicos tendem a se agravar não só no Ceará, mas em todo o país, com aumento exponencial das populações em situação de extrema pobreza, milhões de indigentes e desamparados, fazendo aumentar sobremodo a fome, a miséria e as desigualdades sociais no país.
ResponderExcluirO Brasil tem cerca de 52 milhões de pessoas na pobreza e 13 milhões na extrema pobreza (Fonte: IBGE - novembro/2020)
Sem auxílio emergencial, estima-se que o número de brasileiros vivendo em pobreza extrema pode chegar a 30 milhões de pessoas.
Vivemos hoje no Brasil um cenário econômico de incertezas. E estamos só no começo !!
O ideal seria a prorrogação do auxílio por mais algum tempo, pelo menos até o fim da primeira etapa de vacinação no país.
Do contrário, sem emprego e sem auxílio, muitos morrerão de fome.