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quinta-feira, 21 de junho de 2018

Homicídios contra adolescentes no Ceará cresceram 500% em 17 anos

“Tenho uma revolta dentro de mim. Eu o incentivei a ir para o Exército e, no fim, a própria polícia o matou”, diz emocionada a cuidadora de idoso, Edna Carla, que perdeu o filho durante a chacina da Messejana, em 2015.

A dor de Edna não é um caso isolado. O estudante é um dos 9.511 adolescentes (de 10 a 19 anos ) assassinados no Ceará de 2000 a 2017, segundo dados do Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM), do Ministério da Saúde, por meio da Secretaria de Saúde do Estado do Ceará.

No ano 2000, foram registrados 191 homicídios contra adolescentes. Em 2017, esse número subiu para 1.156, nos 184 municípios do Ceará. Os números representam um crescimento de 505%.

O cenário crescente de ameaça à vida de adolescentes no Ceará é confirmado em diferentes levantamentos, independentemente das diferenças de metodologia ou de recorte de faixa etária.

A Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS), considerando a faixa etária de 12 a 17 anos, mostra que 3.341 adolescentes foram vítimas de Crimes Violentos Letais e Intencionais (CVLIs) no Ceará durante o período de 2010 a 2017. São 511 assassinatos no ano passado contra 297 casos em 2010, representando um aumento de 72%.

Já os dados do Atlas da Violência de 2018, produzidos pelo Ipea e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), divulgados em junho, mostram que mais da metade (56%) das mortes de jovens do sexo masculino de 15 a 19 anos foi de vítima de homicídio no Brasil.

“A gente chegou num patamar de extrema violência”, afirma a socióloga e pesquisadora do Laboratório de Estudos da Violência (LEV), da Universidade Federal do Ceará (UFC), Deiziane Aguiar. Ela avalia que o aumento no número de crimes contra adolescentes representa a falência das instituições e a exacerbação da violência, não só no Ceará, como também no Brasil.
Crescimento populacional

A situação torna-se ainda mais preocupante quando se compara o crescimento populacional de jovens no Estado ao número de assassinatos. De acordo com os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), a população do Ceará de 10 a 19 anos cresceu apenas 0,3% de 2000 a 2010. Já em relação aos números de homicídios, a quantidade de jovens mortos em 2010 foi 160,2% maior do que os registrado uma década antes.

Deiziane aponta como causas principais a vulnerabilidade social, o desemprego, a banalização da violência e a ineficiência de políticas públicas. “A gente vem percebendo que a taxa de desemprego, a precarização do trabalho e o abandono escolar vêm contribuindo para o ingresso do jovem no mundo do crime”, ressalta.

Além dos problemas sociais, a especialista ressalta a presença do crime organizado nas periferias de Fortaleza. Um dos reflexos dessa crise foi a chamada Chacina do Benfica, na qual morreram 14 pessoas. “É necessária uma reformulação que atenda as necessidades dos jovens. Compreender, realmente, do que eles precisam. Escutar a população e não estar voltado para ações que a gente já sabe que são ineficientes”, enfatiza.
Curió

Outra vítima desse cenário foi o adolescente Álef Souza Cavalcante, que teve a vida interrompida por policiais militares com apenas 17 anos. Ele estava no lugar errado e no momento errado, diz a própria mãe. A cuidadora de idoso conta que o estudante foi para casa de uma tia de Jardel Lima dos Santos, outra vítima da chacina, que morava no bairro Curió. Os dois estavam em uma calçada no bairro, na madrugada do dia 12 de novembro de 2015, quando foram abordados por policias.

“Eu perdi o chão. O meu filho não era envolvido com nada”, afirma. Após dois anos e meio do ocorrido, o sentimento de injustiça só não supera a dor do arrependimento de ter incentivado o filho a ser um militar um dia. “O meu erro foi esse”, diz a mãe.

Enquanto a realidade de violência extrema continua, Edna pede justiça pela morte de Álef e de outros adolescentes que são mortos no Ceará. Ela tenta reconstruir a vida e participa de fóruns e grupos de mães que perderam os os filhos em decorrência da violência.

Hoje, Edna vive em um bairro distante do São Cristóvão, onde morava com o filho. Ficou distante das ruas onde Álef costumava transitar, da quadra esportiva onde praticava esporte e dos amigos com quem ele andava. “Não tinha condições de ficar ali. Morreu o meu filho, a esperança e a confiança que tinha no Estado. Morreu tudo”, conclui.

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