Por Zé da Legnas
No Brasil, a cada dia dezenas de famílias choram por alguém que partiu — e ficam sem saber quem tirou a vida de quem amavam.
Não é apenas dor. É também revolta. É sentir que o Estado virou as costas.
De acordo com o Instituto Sou da Paz, apenas 35% dos homicídios cometidos em 2021 foram esclarecidos.
Isso significa que, de cada 10 assassinatos, 6 continuam na escuridão da impunidade.
Um número que não representa apenas estatísticas — representa rostos, histórias, futuros interrompidos.
Enquanto a média mundial de resolução de homicídios é de 63%, o Brasil continua preso a um sistema que prende muito, mas investiga pouco.
E quando a justiça não chega, o crime se fortalece.
💔 Um mapa da desigualdade e do descaso
Os números revelam um país dividido entre quem investiga e quem ignora.
Minas Gerais e Paraná chegam a esclarecer até 76% dos homicídios, mostrando que é possível.
Mas em Bahia e Rio Grande do Norte, o índice despenca para apenas 9% — um retrato cruel da desigualdade na aplicação da lei.
Mais grave ainda: só 11% das pessoas presas no Brasil estão detidas por homicídio.
Ou seja, o sistema carcerário está lotado — mas não com quem realmente mata.
Enquanto isso, o sangue derramado nas ruas continua sem resposta.
🚨 O paradoxo da punição
Nosso sistema penal é rápido para punir o pequeno, mas lento para investigar o grave.
É ágil para prender quem furtou um celular, mas incapaz de encontrar quem tirou uma vida.
O relatório do Sou da Paz denuncia essa distorção: o Brasil gasta energia e recursos com prisões provisórias e crimes de menor impacto, enquanto abandona as investigações de homicídios — o crime mais destrutivo de todos.
O resultado?
A sensação de impunidade cresce.
A confiança na Justiça desaba.
E a violência se repete, como um eco que nunca silencia.
🔍 Falta de transparência, sobra de omissão
Dos 27 estados brasileiros, apenas 16 enviaram dados completos sobre investigações de homicídios em 2021.
E mesmo nesses, faltam informações básicas: sexo, idade, raça das vítimas.
Como construir políticas eficazes se nem sabemos quem está morrendo e por quê?
Sem dados, o país investiga às cegas.
E quem paga o preço é o povo, que vive com medo e sem respostas.
🌱 Caminhos para romper o ciclo
Mas é possível mudar.
É possível transformar o luto em luta e o descaso em ação.
O Instituto Sou da Paz aponta caminhos claros:
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Investir em formação e valorização dos investigadores;
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Fortalecer as perícias criminais;
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Integrar bancos de dados nacionais;
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E, principalmente, colocar a vida como prioridade nas políticas públicas de segurança.
Quando o Estado passa a cuidar da vida, a justiça deixa de ser promessa e passa a ser prática.
🕯️ A verdadeira moradia da impunidade
A impunidade não mora apenas nas vielas escuras nem nos tribunais lentos.
Ela mora na falta de empatia, na burocracia que esconde estatísticas e na inércia que aceita o inaceitável.
Enquanto a impunidade continuar morando aí, a paz continuará distante.
Mas cada denúncia, cada dado revelado e cada voz que se levanta é um passo para trazê-la de volta.
O Brasil precisa — e pode — mudar essa história.
E essa mudança começa quando a sociedade decide não se calar.
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