O valor do quilo da carne bovina sofreu reajuste médio de 10% no último trimestre, em Fortaleza. A depender do corte, as altas podem chegar a 15%, segundo o Sindicato do Comércio Varejista de Carnes Frescas (Sindicarnes). Entre os fatores a puxar esse aumento, está a entressafra do gado, com menor disponibilidade de boiadas entre julho e dezembro.
A escalada do dólar é outro ponto. A vantagem da comercialização para o mercado externo reduziu a oferta interna e, consequente, pressionou o preço. Além disso, o encarecimento da arroba do boi e a maior demanda observada durante o isolamento social tiveram peso sobre as elevações.
O presidente do Sindicarnes, Everton da Silva, acentua que a entressafra é o período no qual há escassez do pasto devido a fatores climáticos. Portanto, há menos animais. “Acontece que alguns estados tiveram seca e queimadas, por exemplo. O efeito disso é alto”, enfatiza. Neste contexto, na projeção dele, o consumidor terá alívio nos preços somente em 2021.
“Em janeiro, os preços começam a ceder devido a chuvas nos estados e maior safra e a tendência é de estabilidade”, complementa destacando que o mês de setembro foi o mais crítico dentre os últimos.
Segundo Everton, os cortes mais em conta são os que têm as maiores oscilações em razão do crescimento das vendas. Um exemplo é o lombo, antes cotado a cerca de R$ 18, agora chega a R$ 21. Outras variedades impactadas foram a carne moída, patinho e coxão mole.
O empresário da Lind Boi, Lindemberg Lima, enfatiza que há escassez no mercado devido às exportações e pondera que a mercadoria não pode ser estocada por um longo período. “No meu caso, por exemplo, estou segurando ao máximo, mas é um produto perecível e fica difícil não repassar”, relata.
Nas gôndolas dos supermercados, os reajustes também oscilam de 10% a 15%, segundo o Engel Rocha, diretor de patrimônio da Associação Cearense dos Supermercados (Acesu). “Já prevíamos que esse movimento inflacionária aconteceria. Haja vista que o bovino para a proteína animal dolarizou e, cada vez mais, os outros países estão querendo comprar no Brasil”, avalia.
A vice-presidente do Conselho Regional de Economia Ceará (Corecon), Silvana Parente, explica que os fatores de produção físico e tecnológico também elevam o custo do alimento. Outro ponto crucial, acrescenta, é a lei da oferta e da procura. Esperava-se que as compras reduzissem com a crise pandêmica, mas houve um aumento, também influenciado pelo auxílio emergencial.
“Mas o principal fator está na política econômica que privilegia exportação em detrimento do consumo local. Para os próximos meses, não temos boas perspectivas, a não ser que os empresários façam a reversão de conseguir compensar o grandes ganhos com o mercado externo, reduzindo o preço para o interno”, analisa.
A debandada de outros países para os produtores brasileiros de proteína animal ocorreu em razão da peste suína africana (PSA) na China, em 2018. De lá para cá, as exportações começaram a disparar em 2019 e têm aumentado equanimemente à demanda.
O POVO Online
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