Mais de 200 policiais já foram afastados das funções por participação nos atos. Mesmo com reforço na segurança, homicídios disparam no estado.
Por G1 CE
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Carros policiais bloqueiam entradas do 17º batalhão da PM, em Fortaleza, durante motim de policiais do Ceará. — Foto: Camila Lima/SVM
O motim de policiais militares no Ceará chega ao 7º dia nesta segunda-feira (24). Pelo menos três batalhões de Fortaleza e da região metropolitana seguem ocupados por grupos de amotinados. Até a noite de domingo (23), mais de 200 agentes de segurança haviam sido afastados por participação nos atos e 37 foram presos por deserção. Em meio à paralisação, continua a onda de violência no estado, com registros de homicídios e assaltos na capital e no interior.
Desde terça-feira (18), homens encapuzados que se identificam como agentes de segurança do Ceará invadiram e ocuparam quarteis, depredando veículos da polícia. Policiais militares reivindicam aumento salarial acima do proposto pelo governador Camilo Santana. Em quatro dias de paralisação, entre quarta-feira (19) e sábado (22), 122 homicídios foram registrados no estado pela Secretaria da Segurança Pública (SSPDS). Por conta da crise na segurança, a Força Nacional e o Exército passaram a atuar em Fortaleza.
Na manhã desta segunda, dois batalhões da PM em Fortaleza - 17º e o 18º , localizados nos Bairros Conjunto Ceará e Antônio Bezerra - permanecem ocupados por homens amotinados e com carros da polícia depredados bloqueando as entradas. Em Caucaia, na Grande Fortaleza, o 12º Batalhão tem cerca de 20 veículos policiais obstruindo ruas que dão acesso à unidade.
Entre sexta-feira (21) e domingo (23), 230 policiais foram afastados das funções por envolvimento no motim, com a instauração de Processos Administrativos Disciplinares (PADs) pela Controladoria Geral de Disciplina (CGD). Os afastamentos, a princípio, são preventivos e devem durar 120 dias. As investigações apuram práticas "de ato incompreensível com a função pública, gerando clamor público, tornando os afastamentos necessários à garantia da ordem pública", segundo as portarias publicados no Diário Oficial do Estado (DOE).
Ao todo, 37 policiais considerados desertores foram presos no domingo por faltarem a uma chamada para trabalhar na segurança em festas de carnaval no interior do Ceará.
Na lista dos afastados, está o ex-deputado federal Cabo Sabino (Avante-CE), da Polícia Militar do Ceará. Segundo informações do DOE, Sabino e lideranças da Associação das Esposas de Militares, "convocaram os policiais e familiares para se fazerem presentes no 18º BPM [Batalhão da Polícia Militar] com o objetivo de obstruir o serviço e iniciar o movimento de paralisação" dos policiais.
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Com paralisação de PMs, ocorrências policiais disparam no Ceará. No sábado (22), bando foi preso quando se preparava para cometer assaltos durante as festas no carnaval . — Foto: Polícia Civil/Divulgação
Onda de violência
Em meio aos atos, o Ceará registrou pelo menos 128 homicídios. Com mais de 70 mortes contabilizadas, a sexta-feira e o sábado foram os dois dias mais violentos do estado desde 2012, ano da última paralisação de PMs no Ceará.
Um homem de 39 anos e a filha de um 1 ano e 11 meses foram assassinados dentro de casa em Beberibe, no litoral cearense, na madrugada de sábado (22). Criminosos invadiram a residência da família e dispararam contra o pai, acreditando se tratar de um desafeto com quem haviam brigado horas antes.
Além dos assassinatos, assaltos, roubos e ataques a veículos policiais também ocorreram nos últimos dias na capital e no interior. No sábado, doze pessoas foram presos quando se preparavam para cometer assaltos em uma festa de carnaval na cidade de Paracuru, na região metropolitana.
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Aumento do número de homicídios com o início do motim de policiais no Ceará — Foto: Arte/G1
Reforços na segurança
Atualmente, a segurança no estado é reforçada por 2,5 mil soldados do Exército e 150 agentes da Força Nacional, além de 212 policiais rodoviários federais, policiais civis e PMs de batalhões que não aderiram à paralisação.
O comandante da 10ª Região Militar do Ceará, Fernando da Cunha Mattos, afirmou que o estado ainda receberá mais tropas para reforçar a segurança. Mattos disse que o número de soldados foi "inicialmente insuficiente" e que o Comando do Nordeste enviou tropas de quatro estado. O número de soldados, porém, não foi informado pelo comandante.
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Veículos blindados são usados pelo Exército na segurança das ruas de Fortaleza — Foto: Thiago Gadelha
Resumo:
5 de dezembro: policiais e bombeiros militares organizaram um ato reivindicando melhoria salarial. Por lei, policiais militares são proibidos de fazer greve.
31 de janeiro: o governo anunciou um pacote de reajuste para soldados.
6 de fevereiro: data em que a proposta seria levada à Assembleia Legislativa do estado, policiais e bombeiros promoveram uma manifestação pedindo aumento superior ao sugerido.
13 de fevereiro: o governo elevou a proposta de reajuste e anunciou acordo com os agentes de segurança. Um grupo dissidente, no entanto, ficou insatisfeito com o pacote oferecido.
14 de fevereiro: o Ministério Público do Ceará (MPCE) recomendou ao comando da Polícia Militar do Ceará que impedisse agentes de promover manifestações.
17 de fevereiro: a Justiça manteve a decisão sobre possibilidade de prisão de policiais em caso de manifestações.
18 de fevereiro: três policiais foram presos em Fortaleza por cercar um veículo da PM e esvaziar os pneus. À noite, homens murcharam pneus de veículos de um batalhão na Região Metropolitana.
19 de fevereiro: batalhões da Polícia Militar do Ceará foram atacados. O senador Cid Gomes foi baleado em um protesto de policiais amotinados.
20 de fevereiro: policiais recusaram encerrar o motim após ouvirem as condições propostas pelo Governo do Ceará para chegar a um acordo.
21 de fevereiro: tropas do Exército começam a atuar nas ruas do Ceará.
22 fevereiro: Ceará soma 88 homicídios desde o início do motim. Antes do movimento dos policiais, a média era de seis assassinatos por dia.
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