Vidas abreviadas pouco depois de nascer. Por dia, o Ceará registra, em média, três óbitos de crianças de até um ano de vida. Até 8 de setembro, a 36ª Semana Epidemiológica, 976 óbitos infantis foram contabilizados no Estado, segundo a Planilha com Atualização Semanal das Doenças de Notificação Compulsória, elaborada pela Secretaria da Saúde (Sesa) com base nas informações notificadas ao Sistema de Informação de Agravos de Notificação Compulsória (Sinan).
A mortalidade infantil compreende a soma dos óbitos ocorridos nos períodos neonatal precoce (0-6 dias de vida), neonatal tardio (7-27 dias) e pós-neonatal (28 dias e mais). Depois de sucessivas quedas, a taxa de mortalidade infantil (TMI) no Ceará voltou a subir em 2016. Segundo a coordenadora de Vigilância em Saúde da Sesa, Daniele Queiroz, a medida é sensível a dinâmicas de nascimentos. Naquele ano, a explosão do zika vírus adiou a gestação de mulheres.
"Como a taxa é uma medida matemática, isso pode ter influenciado. O número absoluto de óbitos diminuiu, mas a taxa aumentou. Esse não foi um cenário particular do Ceará, que ficou com números inferiores a outros Estados", declara. Ela comemora ainda o recrudescimento de causas que mais matavam há cerca de 10 anos, como diarreia, desidratação, pneumonia e doenças preveníveis por vacinas, como o sarampo.
Os últimos dados consolidados do Ministério da Saúde apontam que, em 2016, ocorreram 1.596 óbitos infantis no Estado. Desse total, 427 (27%) foram registrados em Fortaleza. Em seguida, aparecem Juazeiro do Norte (66), Caucaia (53) e Maracanaú (41), todas cidades com mais de 200 mil habitantes, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
No entanto, as maiores TMI estão em municípios menores do Interior cearense, com pouco mais de 12 mil habitantes: Pereiro (45,5), Ipaumirim (43,1) e Ibaretama (42,3). Dos 184 municípios cearenses, 24 atingiram TMI superior a 22,8, como aponta o último boletim epidemiológico divulgado pela Sesa. Daniele Queiroz ressalta que a taxa pode ficar alta em municípios com população pequena porque "com um óbito a mais, ela já pode aumentar". Com TMI geral de 12,6, o Ceará fica dentro da categoria "baixa", conforme o Ministério da Saúde, que a classifica em alta (50 ou mais), média (20-49) ou baixa (menos de 20). A Pasta explica que uma TMI alta tende a refletir "baixos níveis de saúde, de desenvolvimento socioeconômico e de condições de vida". Porém, ressalta que taxas reduzidas também podem encobrir más condições de vida "em segmentos sociais específicos".
Levando em consideração a faixa etária dos óbitos de 2016, 843 crianças morreram nos primeiros seis dias de vida - 407 delas em menos de 24 horas. Outras 266 faleceram nos primeiros 27 dias e, mais 487, entre 28 dias e o primeiro ano de vida.
Chama a atenção que 1.055 casos, ou dois em cada três óbitos daquele ano, teriam causas evitáveis, segundo o Ministério da Saúde. Destes, 910 (contra 957, em 2015) seriam reduzíveis por atenção à mulher na gestação. Dentre os principais problemas, estão infecções específicas do período neonatal, com 227 casos, e transtornos ligados à gravidez de curta duração e peso baixo ao nascer, com 109 ocorrências - 485 crianças nasceram com menos de 1kg.
Acompanhamento
Conforme Daniele Queiroz, é praticamente impossível chegar à taxa zero porque o feto pode passar por complicações genéticas ou malformações desde a barriga da mãe. Por isso, a melhoria do contexto social das famílias envolvidas deve passar por diversas instâncias, como saneamento e habitação.
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