Uma criança de sete anos, portadora de microcefalia, morreu após um mês e dez dias internada no Hospital Albert Sabin, em Fortaleza. Conforme laudo do Serviço de Verificação de Óbitos (SVO), uma sonda para alimentaçãolesionou o esôfago da vítima e um líquido compatível a leite foi encontrado em seu pulmão.
A mãe, Daniela Miranda Gonçalves, que acompanhava a filha, Vitória Kécia, afirma que ela foi alimentada de maneira incorreta, após alertas de que a sonda usada estava fora do lugar. Segundo a mãe, a equipe médica foi negligente e não atendeu os pedidos de socorro dela. A morte foi registrada neste domingo (24).
Em nota, o Hospital lamentou a morte da criança e disse que está verificando os procedimentos avaliados durante a internação da criança. Referência no atendimento de crianças e adolescentes, o hospital disse ainda que “está verificando todos os procedimentos realizados durante a internação de Vitória Kécia no período de 24 de maio a 24 de junho de 2018″.
Segundo a mãe, Vitória Kecia foi internada no Albert Sabin com falta de ar e cansaço. No terceiro dia de internação, ela teria adquirido uma pneumonia. Desde então, a menina teria ficado entubada por 22 dias.
Após apresentar melhoras, a expectativa era de que a criança recebesse alta médica nos próximos dias. “Ela estava só com oxigênio e aerossol, e a médica disse que ela poderia usar em casa”, diz a mãe.
Em atendimento posterior, um médico teria dito que Vitória passaria 24 horas sem se alimentar. “Pedi para botarem soro, não quiseram botar, disseram que ela era ruim de pegar o acesso (na veia). O médico disse que não ia dar. Fiz um escândalo, aí repassaram a sonda”, conta.
O médico, no entanto, detectou a que sonda estava fora do lugar. A mãe pediu que o procedimento fosse refeito e verificado. “Ele repassou de novo, disse que não ia bater o raio-x e que ia dar de comer a ela assim”, diz a mãe.
Durante a noite, conta a mãe, a menina começou “a ficar roxa e a se tremer”. Depois disso, segundo Daniela, ela teria notado que a filha não estava bem e pediu ao médico que fosse vê-la.
“Ele nem lá foi. Simplesmente chamou uma técnica de enfermagem e prescreveu paracetamol. Ela passou a noite toda se esticando, se tremendo toda de dor e gemendo. Eu falando para os médicos, para técnica de enfermagem e ninguém me escutava. Às duas horas da madrugada, iam dar dipirona de novo, e avisei que não podiam porque ela era alérgica”, relembra.
Ao amanhecer, por volta das 10 horas do domingo, a menina não teve melhora. Daniela conta que deu banho na filha e a deixou arrumada, embora ela continuasse passando mal. Em desespero, a mãe foi novamente pedir socorro ao corpo médico.
“Disse: ‘pelo amor de Deus, vá olhar minha filha, que ela está morrendo. Ela está se tremendo todinha e se esticando. Ela tá com frio’. Ele disse: ‘cubra ela’. Cobri. Voltei de novo e disse: ‘Doutor, minha filha está morrendo’. Ele disse: ‘está não, se acalme’. Depois, fui ao banheiro tomar banho. Quando voltei, minha filha já estava morta, com os médicos em cima”, conta Daniela.
Laudo
No Centro de Serviço de Verificação de Óbitos (SVO), o médico patologista atestou que “ao exame de necrópsia, foi constatado presença de grande quantidade de material líquido de coloração, aspecto e odor compatível com leite. Diante da hipóteses de lesão do esôfago por sonda nasogástrica encaminho este corpo para exame médico-legal”.
A mãe registrou um Boletim de Ocorrência, no 30º Distrito Policial, no bairro São Cristóvão, contra o Hospital Infantil Albert Sabin, apresentando o laudo médico que atesta a presença de líquido branco e com cheiro de leite no pulmão de Vitória Kécia.
As informações são do programa Barra Pesada/TV Jangadeiro.
Confira a nota do Hospital Albert Sabin na íntegra:
O Hospital Infantil Albert Sabin (Hias) lamenta a perda da paciente Vitória Kécia Moreira Gonçalves, de sete anos, e ressalta que toda a assistência hospitalar da unidade esteve à disposição da criança. Quaisquer esclarecimentos sobre o caso podem ser solicitados pela família junto ao hospital, que está verificando todos os procedimentos realizados durante a internação de Vitória Kécia no período de 24 de maio a 24 de junho de 2018. O Hias é referência em tratamento médico de alta complexidade em criança e adolescentes da rede do Governo do Ceará. O hospital conta com 28 especialidades distintas. Foram realizadas 4.134 internações, 4.249 cirurgias e mais de 49 mil atendimentos emergenciais de janeiro a abril deste ano no Hias. O serviço aos pacientes é prestado por meio de equipes multidisciplinares, com o intuito de oferecer tratamento mais completo e eficaz.
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