
D I A D E Z E N O V E D E M A
R Ç O !
(Carta de um agricultor à São José)
Dezenove de março... Um homem abre os braços
e olhando para o céu se alia a lei da gravidade, ao perguntar: - Senhor, por
qual razão ou circunstância não me permite mais plantar o meu chão, matar a
sede do meu rebanho, banhar o meu corpo com a límpida água que cai do céu;
pegar o precioso líquido do telhado em vez da compra engarrafada? Por que Senhor,
que o tempo não muda? E o homem da roça nunca deixa de ser trator? Será, senhor,
que existe esse tal de equinócio? Diga-me uma coisa, senhor, ao meu orgulho
ferido de sertanejo se devo mesmo acreditar nos homens engravatados da tal Funceme?
-
Ah, não, senhor! A coisa por aqui tá feia, pra não falar preta, cê sabe, não é?
Podem pensar que sou racista. E alguém pode querer me processar. O povo não
quer mais acreditar na sua pregação. Outro dia eu inventei de fazer aquela
experiência (roubar o santo para vê se chovia), levei foi um cassete da
polícia, peia pra dez eu levei sozinho; isso quer dizer que o que era atitude
religiosa virou superstição e até boletim de ocorrência em delegacia de policia
civil.
Ainda
bem senhor que BO aqui no Ceará o fora da lei chama boletim de otário. Será,
Senhor, que essa gente não estudou demais? E não está se preparando para te
tomar o poder, assim como fez o papa em Roma e o Luís Inácio aqui no Brasil?! Gloria Deus, Senhor, não sei mais o que fazer;
e o Senhor será que sabe? Será que está preparado para as controvérsias deste
século vinte um? Ou o senhor também está temente aos homens do saber?
Amanhã
são vinte, e se não chover hoje? Para
os profetas não haverá inverno. Mais se chover, para os intelectuais será
apenas a passagem do EQUINÓCIO. E com certeza vão me chamar de tolo e até dizer
por aí que ando venerando demais o infinito! Os homens letrados, até
comemorarão na mesa da democracia a passagem do Equinócio. Vão até mangar da nossa reza, do nosso pai-nosso;
e o que fazer, Senhor, se nem falar bonito eu sei para te defender?!
Outro
dia já passaram umas pessoas por aqui querendo que eu mudasse de lado; é que,
segundo eles, tinham criado uma nova igreja e elegido um pastor para cuidar do seu
rebanho. Mas, senhor, não fique curioso não, porque a primeira coisa que eles pedem
é uma quantia como dízimo.
Até
pensei, senhor: pra que tanta igreja, se nem o catolicismo tão pregando direito?
Assim fica até difícil saber a magnitude das suas ações. É que em quase todas
as esquinas os homens constroem os seus templos. Isso quer dizer, senhor, que a
nossa religião está dividida demais, para não dizer bagunçada. E você acredita,
que o padre num tá nem aí? Também não está, senhor, porque ele não tem
despesas, não paga aluguel, energia, água telefone... Quer dizer, senhor, que lá
na sua casa paroquial ele jamais vai saber o que diabo é inflação! E esses que
se dizem evangélicos, além de perturbarem mais do que político em época de
eleição, ainda vendem suas cartas de créditos como salvação. Falam por aí que até
Lutero está pagando dizimo ao pastor!
Ouvi
uns beatos também dizer que a concorrência está meio desleal. E grande parte
está mudando de lado. O senhor sabe qual foi a última promessa deles: é que vão
fazer as transposições do velho Francisco! Ora se nem os políticos fizerem? Imaginem! É,
mais o povo está indo na onda deles...
Já teve até um cara de pau, senhor, que prometeu parcelar em doze suaves
prestações o nosso lugar no céu. Agora
me diga uma coisa, Senhor, eu espero pela a vossa chuva do dia de SÃO JOSÉ, Ou
aceito essa tal transposição prometidas por eles? Rogue-me, senhor! Mas não me
faça além de rude um beato sonhador...
FIM(Fim da carta, senhor, porque o nosso eu
rogo que dure mais uns ano mesmo que de seca!)
Gonzaga Barbosa em a CRÔNICA do mês
Colaboração de Zeca Amorim
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