Meus desejos vão para o Semiárido. Seu povo, seus bichos, suas árvores, suas almas, sua água que ausenta. Quero pedir pela formiga antecipadeira, com a qual cruzamos lá em Paramoti dos papagaios. Cumpram elas a profecia cabocla e botem pra fora do formigueiro, no fim deste dezembro, as toneladas de sementes de angico que carregaram com medo da rainha morrer de fome se 2013 insistir em não gozar a terra.
Se eu pudesse, eu choveria nos Inhamuns. Correria regaço no Sertão Central e sangraria onde antes era território de cruzar jaguares... Jaguaribe, Jaguaretama, Jaguaribara... Desejo que as vacas morridas este ano, carcaças que aprisionamos na câmara escura, enquanto íamos nas rodagens, se levantem e reengordem Lázaro. Ah, se eu fosse o Homem! Esse tal filho de Deus que somos impelidos, meninos e meninas, a crer no nascimento do Conselheiro. Quixeramobim, Ogum! Quixadá, Quixadá, meu Pai!
Ressuscita Sertão! Flora o deserto de Irauçuba, ressurge a mata cinza e deixa de fazer tinir o sol. Por Orós, por Banabuiú, por Feiticeiro, por Pentecoste, por Ematuba, pelos mortos vivos de Patu no 32. São Francisco, que se retirou de Assis para Canindé, padre Cícero que dizem reencarnação de Abrãao... Onde tão vossas mercês? Que arcanjos sois vós?
Tá difícil no Sertão! Fica desejado, a partir de mais uma seca arcaica, que a caboclada, êxi povo do sol, vai deixar de esperar por Deus, por Mãe das Dores e pelo diabo dos governos. O que eles (potoqueiros) têm de fazer, sem favores e currais, que façam de véspera. E quem não aprender a colher chuva azul no temporal não terá porque choramingar. Assim deixem dito, escrito ou digitado. Passem aos filhos, netos, bisnetos, tataranetos...
Fica desejado também que não desmatarás a caatinga, que não queimarás emburana, pau branco, aroeira, janaguba, sabiá... Que não aprisionarás bicho algum: de asa, quatro patas, rastejante ou navegável. A não ser que seja para pelejar com a fome. Ovo que tiver vai deixar rebentar e arribarem os ciclos.
Fico pensando: com tanta conversa sobre o mundo que está se derretendo no aquecimento, extinguindo até urso do frio, será que não chegamos a hora de estiar para sumir de vez com o Semiárido? Acho não ser impossível. Chuviscar por sempre, esperando por tempestades!!! Uma prisão, a fé. Mas os olhos ainda me chovem nas romarias.
Desejo chuva, mas mais do que um pau d´água que a civilização do Semiárido se liberte dela mesma, de anos carregando a seca como cruz para fenecer miserável e pedinte. Já deveríamos ter guerreado, baixado os bárbaros. Dona Bárbara... Somos sim! E que vexame há lá nisso, homi? Tremembé, Abaiara, Tapeba, Reriutaba... Que padeçam, sejam extintos mesmo, todo senhoril que ainda se aproveita de um homem sem chuva.
Rachado ao chão.
Se eu ainda chover este ano, chovo lá pras bandas do Iapi, encho o Acaraú, o Coreaú, desço Ubajara inundando a miúda Araticum, molho o Apodi, o Araripe. Assaré...
O Povo
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