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segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Comunidade do Sítio do Meio é destaque em matéria especial do Jornal o Povo: Artimanhas de sobreviver

Não nasceu capim no campo para o gado sustentar O sertão se estorricou, fez o açude secar- "vaca estrela e boi fubá"

SARA MAIA

A aridez extrema do clima em Pentecoste, pegando fogo às 10 da manhã, não desfez as aulas na Escola de Ensino Infantil e Fundamental João Rodrigues Cordeiro. Sim, alterou o cotidiano de três professores e dos 47 estudantes de 3 a 16 anos que experimentam do maternal ao 7º ano. Por causa da falta d’água, na manhã em que estivemos no lugarejo de Sítio do Meio (um poeiral grande quando o automóvel passa e caatinga desmatada), a aula teve de terminar mais cedo. À tarde não funcionou. 

Naquele dia (e em alguns outros) faltou água de beber e para cozinhar a merenda. Mas Lindomar Rocha de Alcântara, 39, professor polivalente, pai de aluno e coordenador do colégio, se desdobrava em sua moto nas estradas de areia e pedra para resolver o reabastecimento de uma cisterna e uma caixa d’água de 5 mil metros cúbicos. O carro-pipa viria, estava certo. “Nesse tempo é assim mesmo. Mas a escola não fecha”, garantia na palavra. Confiante.

Fechar, fechar, não é a seca que põe em risco a continuidade da escola municipal. Pior do que a estiagem, confidencia Lindomar Rocha, são os “interesses imprevisíveis da politicagem”. Em 2009, a pequena João Rodrigues Cordeiro só não parou de funcionar porque o professor reuniu boa parte das 72 famílias da Associação de Moradores de Sítio do Meio para que evitassem um prejuízo ainda maior para meninos e meninas daquele pedaço do semiárido.

A justificativa para o fechamento, explicava Lindomar Rocha, seria uma atecnia burocrática que retirava da escola o direito de receber investimentos dos governos Federal e Estadual. Porque funciona num prédio da Associação de Moradores é como se não existisse no mapa do Ministério da Educação. “Em 2008, depois de muito impasse e reuniões, a Secretaria da Educação de Pentecoste e do Estado prometeram construir um novo espaço para abrigar a escola”, pontuava.

Mas a interferência de um vereador à cata de eleitores e a reclamação de que a nova escola seria construída distante das casas dos estudantes de Sítio do Meio inviabilizaram a obra. Enquanto isso, relatórios da própria Vigilância Sanitária de Pentecoste atestam, desde então, “que o teto tem de ser refeito, que as paredes estão rachadas, que as portas têm de ser trocadas e novas carteiras adquiridas...”, mostrava, papelada na mão, Lindomar Rocha.

No dia em que estivemos em Sítio do Meio seguindo o rastro da seca deste ano, numa manhã de uma terça-feira (16/10) de mormaço, o burburinho de alunos nem passava recibo sobre os problemas ali existentes. Porque o transporte escolar está quebrado há meses, boa parte da meninada ia voltar pra casa a pé. Acompanhados hora pelo que ainda resta de mata branca ou por grandes vazios de pasto e desertificação. E também pelo incentivo de um professor que não se rende aos tempos de deserto: seja político, seja da natureza.

*O POVO entrou em contato com a Secretaria da Educação de Pentecoste por telefone e email, mas não obteve retorno. (Demitri Túlio/Cláudio Ribeiro) 

47 ALUNOS de 3 a 16 anos estudam na Escola de Ensino Fundamental João Rodrigues Cordeiro, em Sítio do Meio (Pentecoste), dirigida pelo professor Lindomar Rocha

ESTOU NO CANSAÇO DA VIDA / ESTOU NO DESCANSO DA FÉ / ESTOU EM GUERRA COM A FOME / NA MESA, FIO E MULHER / SER SERTANEJO, SENHOR, / É FAZER DO FRACO FORTE / CARREGAR AZAR OU SORTE / COMPARAR VIDA COM MORTE - “TERRA, VIDA E ESPERANÇA”

ERA TEMPO DE PESCAR PASSARINHONoutras secas, fome matava gente. Se não levasse um, deixava menino de costela magra, desmastreado, e desespero na cara dos pais. Era reza e o improviso de comer qualquer coisa para matar a fome. Até dia desses, em Apuiarés, também era assim. Agora parecem só histórias. 

Os nascidos no arrastado das secas dos anos 1970 e 1980 trazem isso como marca de suas infâncias. Numa roda de conversa, diretores do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Apuiarés vão lembrando. Elizângela Neres nasceu no ano da seca de 1981. Aquele estio começara em 1979 e prolongou-se até 1983. “Lá em casa passamos fome, sim. A gente comia feijão com açúcar”, diz.

“E feliz de quem tivesse o feijão”, completa Idavan Vieira, 40, presidente da entidade. Na precisão, o pai dele safava a família caçando preás, tejos, pebas... “Hoje, num ano desses de seca, nossos filhos escolhem qual biscoito comer.”

Vicente Andrade, 39, fala de “pescar” passarinho. “Estendiam a tarrafa no meio do mato e os passarinhos ficavam presos na rede. A gente comia passarinho frito e farinha. Era milho torrado e água, pra descer”.

Os avós lhes contavam que, na seca de 1958, enchia-se prato e bucho era com cuscuz de semente de mucunã. Foi a comida de seus pais . O caroço preto, lavado em nove águas para largar o amargo, depois pisado no pilão, servia de forro ao estômago vazio. Enganava. Lembra que a paga dos bolsões da seca para seus pais era em litros de farinha. “Nossos filhos hoje não acreditam que já foi assim”, diz Idavan. (CR/DT)

Fonte: http://www.opovo.com.br/app/opovo/planetaseca/2012/11/10/noticiasplanetaseca,2951315/artimanhas-de-sobreviver.shtml

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