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sexta-feira, 21 de janeiro de 2022

'Bom inverno?': Entenda por que as referências para comparar volume de chuvas mudam no Ceará

Diante das mudanças climáticas ocorridas em todo o mundo, a ocorrência de chuvas tem mudado. Para acompanhar essas alterações, diversos órgãos monitoram com periodicidade os fenômenos

Legenda: Quadra chuvosa começa em fevereiro. Previsão para o próximo trimestre aponta apenas 20% de chance de índices pluviométricos abaixo da média
Foto: Fabiane de Paula


"A probabilidade de chuvas acima da média no Ceará para o próximo trimestre deste ano é de 40%". A frase dita na manhã desta quinta-feira (20), pelo presidente da Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme), Eduardo Sávio, era, sem dúvida, uma das informações mais aguardadas neste início de ano entre agricultores, sertanejos e produtores que, de alguma forma, têm suas vidas intimamente ligadas às chuvas.

A previsão para o trimestre seguinte é positiva, mas, o que de fato significa chuvas acima da média? Qual é o parâmetro usado para definir tais volumes e, por qual razão, eles mudam ao longo das décadas?

Os volumes das chuvas acumulados entre fevereiro, março e abril - meses inicias da chamada quadra chuvosa, que se estende até maio - tem, como referência de média histórica, o índice de 510,1 milímetros.

No entanto, para que o volume pluviométrico seja considerado acima ou abaixo da média, é preciso ir bem além deste parâmetro e não apenas chover, por exemplo, 509 milímetros, para ser abaixo, ou 511 mm, para ser considerado acima da média.

Há uma janela que delimita os extremos. Ao fim do trimestre, se as chuvas estiverem inferiores a 433,1 mm elas serão consideradas 'abaixo da média'. Já se o volume acumulado for superior a 587,1 mm, será um período 'acima da média'. Esse intervalo, superior a 150 mm, tem uma razão de existir, explica Eduardo Sávio.



Legenda: Presidente da Funceme, Eduardo Sávio, destaca que os avanços na área da ciência foram fundamentais para ajudar o Ceará a passar pelos recentes anos de estiagem
Foto: Fabiane de Paula


"Há o valor pontual da média para o trimestre, que é de 510,1 mm e há a categoria para o período. São coisas diferentes. Quando divulgamos o prognóstico de 40% acima da média, estamos nos referindo à categoria [isto é, o volume tem que romper a marca dos 587,1mm]", detalha o presidente da Funceme.

Para chegar ao denominador destes índices - inferior, média e superior à média -, completa Sávio, a Funceme compila dados de pelo menos três décadas.

"Atualmente estamos usando como período referência para [definir os dados da] categoria os anos de 1981 e 2010. Essa janela vai andando a medida em que os anos passam, pois o clima está em constante mudança. E como há essa mudança, necessitamos ficar o mais próximo possível do real cenário atual, por isso esses índices são mutáveis", completa Eduardo.

O próximo período referência será entre anos de 1991 e 2020. Quando ocorrer essa mudança de referência, as médias históricas tenderão a sofrer alterações. No Ceará, a última década foi marcada, em quase sua totalidade, por volumes pluviométricos abaixo da média histórica. Portanto, essa ausência de chuva neste período puxará a média para baixo.

Diante dessa variante dos índices, se faz necessário respeitar a janela entre volumes abaixo (433,1 mm) e acima da média (587,1mm) para os períodos analisados, neste caso em específico, o trimestre fevereiro-março-abril.

Mas, para além de ter subsídios para divulgar os prognósticos, na prática, qual a importância dessa análise constante e como ela é aplicada no cotidiano dos cearenses? A resposta, segundo o titular da Secretaria de Recursos Hídricos (SRH), Francisco Teixeira, reside em diversas esferas.

Legenda: Francisco Teixeira considera o modelo de gestão hídrica do Ceará como "um exemplo para todo o País"
Foto: Fabiane de Paula

Na economia, a chuva atua como um termômetro. É á água que cai do céu que define o que plantar, quando plantar e onde plantar. Essa engrenagem movimenta não só os pequenos agricultores familiares, mas também os grandes produtores.

No abastecimento humano, estimar, ainda que de forma percentual, a quantidade de chuva em determinados intervalos de tempo é primordial para definir estratégias assertivas de controle e uso da água.

"Temos visto, com base nessa vasta e complexa análise realizada pela Funceme, que os períodos chuvosos, capazes de enxer os açudes, serão cada vez mais esporádicos. E os períodos secos cada vez mais recorrentes", diz Teixeira.

Para isso, completa o secretário, "é preciso adaptação na gestão de recursos hídricos, sabendo utilizar a água de forma racional para evitar desabastecimento humano e, a agricultura, tem que ser feita de forma mais eficiente, com culturas menos exigentes a água".

A pecuária é um bom exemplo, exemplifica Teixeira. "Ela se adaptou bem. Hoje conseguimos produzir o máximo de forragem para o gado no período chuvoso fazendo silagem e garantindo alimento para o rebanho no segundo semestre, marcado por poucas chuvas"


O nosso perfil está mudando. A indústria está fazendo o reuso da água e isso traz uma grande economia. No consumo humando, a Cagece já consegue trabalhar, em alguns momentos aqui em Fortaleza, com nível de uso de água até 18% menor do que era em 2014, pois controla melhor as perdas e fraudes. É tudo uma adaptação à nossa realidade.
FRANCISCO TEIXEIRA
Secretário de Recursos Hídricos


Eduardo Sávio, presidente da Funceme, destaca ainda o elo entre ciência (Funcem) e execução das ações (SRH, Cogerh e Cagece) como instrumentos importantes de gerenciamento crise.

"No final de 2014, por exemplo, a Funceme identificou um período de poucas chuvas para 2015 e antecipou previsão de escassez hídrica para o ano de 2016, por conta de uma possível formação do El Ñino. Esse estudo foi repassado à SRH que, por sua vez, teve tempo hábil para traçar estratégias eficientes", com perfuração de poços, ampliação das adutoras e desenvolvimentos de programas assistenciais, com o Malha D'Água.

"Sem esse arcabouço institucional, que engloba vários órgãos, nosso Estado não tinha conseguido passar por tantos anos de seca como foi nesta década", conclui Teixeira.


Legenda: Diversos fatores e cenários são observados, por semanas, para identificar a previsão climática
Foto: Fabiane de Paula

COMO É FEITO A PREVISÃO?

Para chegar ao resultado final, que fora divulgado nesta quinta-feira (20), Funceme, Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) e Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC/Inpe) analisam, por diversas semanas, uma série de indicadores.

Dentre eles estão os campos atmosféricos e oceânicos de grande escala (vento em superfície e em altitude, pressão ao nível do mar, temperatura da surperfície do mar, entre outros) e análises dos resultados de modelos numéricos globais e regionais. Esses estudos são compilados e assim a previsão é realizada.

Neste ano, as condições do Oceano Pacífico estão favoráveis, no entanto, o Atlântico, atualmente também favorável, está em constante mudança, dificultando especificar quais regiões cearenses receberão mais ou menos chuvas neste próximo trimestre.

"Hoje não conseguimos falar de forma regionalizada devido a essas frequentes alterações [Oceano Atlântico]. Mas, vamos seguir os monitoramentos e, nas próximas semanas, deveremos ter esse resultado", pontuou Eduardo Sávio.

Saber qual região vai receber mais ou menos volume pluviométrico também é importante do aspecto de organização estratégico no campo hídrico. O Sul do Estado, por exemplo, tem singular importância na produção agrícola, portanto chover bem e de forma contínua é fundamental para produção de grãos.

Já a região do Jaguaribe, tem o maior e mais importante reservatório do Estado, o Castanhão. Desta forma, chuvas volumosas naquela localidade tendem a garantir um bom aporte hídrico ao açude, hoje com 8,5% de sua capacidade de armazenamento.
CHUVAS ESPACIAIS

Chover de forma espaciais, isto é, que não sejam eventos localizados, é importante para beneficiar agricultura, assim como aumentar a segurança hídrica dos açudes. Assim, além de identificar a média histórica para o Ceará como um todo, a Funceme especifica a normal climatológica de qual localidade.

O litoral Norte é a região com maior média máxima e o Sertão Central a localidade com a menor média mínima. Esses dois extremos são bem observados em nosso cotidiano. Reservatórios construídos no extremo Norte do Estado possuem hoje os melhores níveis de aporte. A bacia do Acaraú, que aglutina 15 açudes, tem hoje 61,5% de volume armazenado.
Ceará: limite inferior 433,1 mm / limite superior 587,1 mm
Litoral Norte: limite inferior 551,3 mm / limite superior 762,3 mm
Litoral do Pecém: limite inferior 472,4 mm / limite superior 656,2 mm
Litoral de Fortaleza: limite inferior 546,8 mm / limite superior 748,9 mm
Maciço de Baturité: limite inferior 471,7 mm / limite superior 625,8 mm
Ibiapaba: limite inferior 487,1 mm / limite superior 663,3 mm
Jaguaribana: limite inferior 397,6 mm / limite superior 561,4 mm
Cariri: limite inferior 481,7mm / limite superior 623,3 mm
Sertão Central e Inhamuns: limite inferior 360,9 mm / limite superior 493,5 mm


Em realidade oposta, a cidade de Monsenhor Tabosa, no Sertão Central, é uma das mais afetadas do Ceará, com os menores volumes pluviométricos registrados historicamente. "Não basta chover bem, tem que chover de forma espacial, de forma bem dividida entre todas as regiões", alerta Teixeira.

Diário do Nordeste

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