Um dia após Fernando Azevedo e Silva deixar a Defesa, comandantes do Exército, Marinha e Aeronáutica são demitidos em queda de braço sobre politização das Forças Armadas. Militares se dividem sobre o caso.
Em cena que não ocorria desde a criação do Ministério da Defesa, em 1999, os comandantes do Exército, Marinha e Aeronáutica foram demitidos ontem a pedido de Jair Bolsonaro. Abrindo a maior crise militar desde a redemocratização, a demissão ocorreu horas depois de os três oficiais-generais considerarem renúncia conjunta dos cargos, após rejeitarem pressões do presidente por uma politização maior das Forças Armadas.
A intervenção de Bolsonaro nas Forças Armadas já havia provocado a queda do ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva, na última segunda-feira. A crise ocorre às vésperas do "aniversário" de 57 anos do golpe militar de 1964, que foi ontem objeto de uma nota do substituto de Azevedo e Silva na Defesa, general Braga Netto.
"O movimento de 1964 é parte da trajetória histórica do Brasil. Assim devem ser compreendidos e celebrados os acontecimentos daquele 31 de março", disse o general, que defende a celebração da data, mas destaca que as Forças Armadas "acompanham as mudanças, conscientes de sua missão constitucional de defender a pátria e garantir os Poderes constitucionais".
Comandada pelo novo ministro da Defesa, a reunião que selou a saída de Edson Pujol (Exército), Ilques Barbosa Júnior (Marinha) e Antônio Carlos Bermudez (Aeronáutica) foi marcada por frases duras e tapas na mesa. O movimento para "enquadrar os militares" ocorre em meio a perda da popularidade de Bolsonaro diante do agravamento da pandemia de Covid-19, que registrou ontem novo recorde de mortes, com 3.668 óbitos em 24 horas.
Braga Netto abriu a reunião com Pujol, Ilques e Bermudez, pela manhã, dizendo que as substituições eram necessárias para o "realinhamento" das Forças Armadas com Bolsonaro e a manutenção do apoio ao governo. Na noite de segunda-feira, Pujol chegou a reunir o alto comando do Exército para discutir o tema, onde foi decidido que militares não aceitariam pressões para aprofundar participação no debate político.
Ainda na noite de segunda-feira, os três comandantes chegaram a avaliar uma renúncia coletiva aos cargos em solidariedade a Azevedo e Silva. Ao chegarem na reunião com Braga Netto, no entanto, eles foram recebidos com as cartas de demissão já assinadas.
Ouvidos pelo O POVO, oficiais de alta patente do Exército se dividiram sobre o caso. Enquanto para alguns as demissões expõem uma rejeição das Forças Armadas às crescentes pressões autoritárias de Bolsonaro, outros avaliaram a mudança como "normal" diante da mudança no comando da Defesa. Outros lamentavam a situação, mas culpavam pressões do Centrão - e não Bolsonaro - pela intervenção.
A partir de hoje, o ministro Braga Netto deverá iniciar reuniões com possíveis novos comandantes para as Forças Armadas. O primeiro a ser ouvido será o general Décio Luís Schons, atual chefe do Departamento de Ciência e Tecnologia (DCT), em reunião marcada ainda pela manhã. Ele é um dos cotados para assumir o Comando do Exército.
Caso confirmada, indicação de Schons - primeiro na lista por antiguidade e de perfil mais discreto - sinaliza que militares resistentes às pressões acabaram levando a melhor na "queda de braço" com Bolsonaro. De turma mais nova, o general José Luiz Freitas, atual comandante de Operações Terrestres do Exército, é visto como perfil mais próximo do desejado pelo presidente - com defesa de ações do governo e atividade nas redes sociais.
OPOVO Online
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