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segunda-feira, 30 de março de 2020

E quando o coronavírus chegar nas periferias?

Comunidades se unem em preocupações e solidariedade. Especialista enfatiza que é fundamental não subestimar a doença e desinfetar tudo o que for possível

Por Marcela Tosi

Imagem aérea do Pirambu e Vila do Mar durante quarentena provocada pela pandemia do novo coronavírus

As medidas mais eficazes para se prevenir da covid-19 seguem sendo evitar aglomerações e garantir uma boa imunidade e higiene pessoal. Mas o que fazer quando se vive em meio a uma aglomeração e com difícil acesso a serviços básicos? Em Fortaleza, pelo menos um milhão de pessoas (44% da população da Cidade) vivem em assentamentos precários. Esforços coletivos para arrecadações e envolvimento da população para divulgar informações têm sido a alternativa enquanto não há qualquer plano específico do poder público para essa parcela da população.

O infectologista e coordenador do Núcleo de Medicina Tropical da Universidade Federal do Ceará (UFC), Ivo Castelo Branco explica que, como o H1N1 e a dengue, a alta densidade demográfica, a baixa ventilação dos espaços, a lotação das casas e a precariedade sanitária são fatores para uma disseminação maior e pouco controlável. “Para a dengue a gente combate o mosquito, na H1N1 temos as vacinas e com o coronavírus a questão é não subestimar a gravidade”, enfatiza. O médico indica que as melhores precauções, diante da dificuldade de um isolamento, são manter sempre as superfícies limpas com água e sabão ou água sanitária e tomar cuidado com tudo o que vier da rua. “Roupas, acessórios, sapatos, embalagens, tudo precisa ser limpo e lavado ou pelo menos exposto ao sol.”

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“Esses ambientes diferem em diversos aspectos da maioria das cidades em que o coronavírus ganhou maior expressão até agora. Na China talvez existam algumas semelhanças, mas nos EUA e na Europa a ocorrência de ambientes como os das favelas é bem menor”, aponta a professora Clarissa Freitas do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da UFC. Em 2010, ano do último Censo realizado no País, Fortaleza somava 509 favelas constituídas por 396.370 pessoas, resultando na média de quatro favelas para cada um dos 119 bairros da Capital. No Estado, Caucaia tem a segunda maior população habitante de favelas, com 18.301 moradores.

Os dados demográficos contam parte de uma história que se acentua quando cruzamos, por exemplo, com índices de saneamento básico. Caucaia é a décima cidade do País com pior cobertura de coleta de esgotos: tem apenas 28,34% da sua população contemplada por esse serviço, segundo o Ranking do Saneamento Básico 2020, do Instituto Trata Brasil. Já Fortaleza é a décima pior cidade brasileira quando o assunto é água tratada, o serviço chega a 77,31% dos fortalezenses. Ainda na Capital, apenas 49,89% da população tem esgoto tratado. “Os investimentos urbanos, especialmente de saneamento, só chegam nas periferias em época de eleições e não como uma política pública de direitos básicos”, expõe Clarissa, que trabalha em planos urbanísticos para Zonas Especiais de Interesse Social no Poço da Draga, no Pici e no Bom Jardim.

Para Cleylson Almeida, presidente da Amorbase - Associação dos Moradores do Bairro da Serrinha -, a preocupação com a falta de renda e consequente falta de comida na mesa é perceptível no dia a dia. Ainda assim, as pessoas estão mais dentro das suas casas. Na Serrinha, a Praça da Cruz Grande, que é um ponto de grande convívio, está pouco ocupada. No Jangurussu, a feira do São Cristóvão não está acontecendo. “É uma medida recomendada, mas, ao mesmo tempo, a gente tem relato de casas de dois compartimentos em que moram cinco ou seis pessoas, sendo que pelo menos uma é idosa. Aí é o grande medo de uma expansão da doença.”

A falta de testagem para a covid-19 também preocupa moradores e lideranças. Maria das Graças de Castro, 44, moradora do Bom Jardim e integrante do Fórum de Cultura de Grande Bom Jardim conta que aumentam os relatos de pessoas que têm sintomas que são compatíveis com a doença, mas não chegam a ser diagnosticadas. “E isso não figura nos números oficiais. Como é que a população vai ficar em alerta, se cuidar e receber atenção adequada do poder público se a realidade não está nos boletins?”, questiona. “No atual momento, nos preocupamos com uma provável subnotificação e também com a ocorrência concomitante de outras doenças graves, como a dengue”, completa Rogério Costa, morador do bairro Granja Lisboa e integrante do Rede de Desenvolvimento Local, Integrado e Sustentável do Grande Bom Jardim (Rede DLIS).

No Canindezinho, a moradora Regina Márcia Ferreira Diolino, 55, afirma que a população está ciente das medidas de prevenção e “tentando fazer da melhor maneira que se tem e que se pode”. “O pessoal tem se mantido em casa e usado o que tem. Se tem sabão e sabonete, ou até sabão diluído, é isso que usa para a limpeza das mãos. Mas bater numa casa atrás de álcool em gel e encontrar é difícil”, relata. Regina acredita que o momento é de solidariedade e fé. “Tenho uma vizinha há mais de 30 anos e costumava ir lá tomar café, assistir uma novela, sentar na calçada. Agora a gente se conversa muito por mensagem mesmo separadas só por um muro. É preciso pensar nos outros.”


Favelas no Ceará

Fortaleza é a sexta cidade com maior quantidade de favelas no Brasil e está entre as cinco com maior número de pessoas instaladas em tais áreas.

No Ceará, 441.937 pessoas residem em favelas. São 566 comunidades e 121.165 domicílios.

São em média 3,6 pessoas por domicílio.

89% da população de comunidades está concentrada na Capital.

Em Fortaleza, somam-se 509 favelas. São 396.370 pessoas em 109.122 domicílios ocupando 31,437 km².

A média é de quatro favelas para cada um dos 119 bairros de Fortaleza.

Além de Fortaleza, o IBGE constatou existência de favelas em Aquiraz, Camocim, Caucaia, Granja, Guaiúba, Itaitinga, Juazeiro do Norte, Maracanaú, Maranguape, Pacatuba, Pentecoste, Quixadá e Senador Pompeu

Fonte: IBGE. Censo 2010

O Povo

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