“Perdi minha gasolina”, disse a líder comunitária em tom de decepção e protesto, ao deixar o auditório onde era lançado o que a prefeitura de Fortaleza está chamando de PPA digital. “Nas assembleias que nós fazemos, dá pra mais de três mil pessoas”, completou a mulher seu desaforo, sem perceber que a nova ferramenta de participação e diálogo pode ser um excelente combustível para o planejamento da cidade.
O PPA digital é um instrumento de consulta disponibilizado na internet para o cidadão opinar sobre o que deve ser priorizado no Plano Plurianual. A lei define limites para a elaboração dos orçamentos municipais dos próximos quatro anos, em que estarão definidos os recursos que financiarão as obras e ações do Município. Por isso, a importância de ampliar a ausculta para os 30 mil ou 300 mil cidadãos, que não vão às assembleias da líder.
A iniciativa do uso de meios digitais e da internet, que tira o município da inércia da comunicação pública nas ações de macroplanejamento, já terá sido um resultado melhor que qualquer outro que venha a ser apurado na consulta. A tarefa maior é contagiar as esferas inferiores de decisão da Prefeitura a planejar e atuar não só com inteligência competitiva, mas com o diálogo interessado e permanente com o cidadão.
É preciso também considerar os baixos índices de cultura e inclusão digitais, principalmente entre os mais pobres e desempoderados, exatamente os que têm menos acesso a canais de informação e expressão, e exatamente os que mais precisam ser ouvidos. O desafio, no caso, é convencer esse cidadão de que alguém quer ouvi-lo, de que o que tem a dizer é importante e de que isso é motivo bastante para que enfrente a internet.
Segundo a Pnad (2011), 60,9% dos cearenses tiveram até sete anos de estudo, ou seja, são entre analfabetos e analfabetos funcionais, portanto terão dificuldade em ler e compreender o escrito na tela. Apenas 33,4% dos entrevistados tiveram acesso à internet nos três meses anteriores à pesquisa, enquanto a proporção já era bem maior em Brasília (71,1%), no Sudeste (54,2%) e na média Brasil (46,5%).
Como privilegiado na escolaridade, na renda e sem deficiência, acesseiwww.fortaleza.ce.gov.br e já me manifestei. Não precisarei ir a um dos cinco totens de acesso que circularão pelas sedes das Secretarias Regionais e terminais de ônibus. Dos 16 temas oferecidos, escolhi Participação popular, Transparência e Controle Social.
Alberto Perdigãoaperdigao13@gmail.com
Jornalista e mestre em Políticas Públicas e Sociedade
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