Os moradores do Cariri estão tendo que ficar em alerta pela maior incidência de cobras nesta época do ano
Crato. Nesta época do ano aumenta a presença de animais peçonhentos nas estradas, veredas e terreiros sertanejos. A Coordenadoria Regional de Saúde do Crato (Cres), que atende a 13 municípios do Cariri, registra uma média de oito acidentes provocados por picadas de cobras venenosas por mês. Somente o Centro de Zoonoses do Cariri notifica quatro casos. Nos meses de abril e maio a incidência é muito maior. Segundo levantamento feito pelo funcionário do Centro de Zoonoses, Edmilson Silvestre, só nos últimos 40 dias, deram entrada 20 casos.
A presença das cobras e o aumento das pessoas acidentadas com picadas, está relacionada com o final de período invernoso e início da colheita. Conforme o médico veterinário Eldon Menezes, diretor do Centro de Zoonoses do Cariri, os grãos atraem os roedores, ratos, preás, cutias, que são os alimentos naturais das cobras, que são obrigadas a saírem de suas tocas para procurar estes animais.
Outro motivo da presença das cobras é o acasalamento que, segundo o veterinário Ricardo Martins, ocorre no período da primavera, ou seja, após o período mais frio do ano, a maioria das espécies de serpentes entra em época reprodutiva. "A elevação da temperatura, do tempo de exposição à luz e da umidade relativa do ar predispõe ao acasalamento", explica o veterinário. A informação é confirmada pela gerente da Floresta Nacional do Araripe, Verônica Figueiredo.
O biólogo Carlos Leal, funcionário da Ibama, diz que só esta semana se deparou com três cobras em cima da serra, uma caninana, que estava de bote armado para pegá-lo, uma jararaca e uma cascavel. Leal não tem uma explicação científica para a incidência de cobras nesta época do ano, principalmente no mês de maio, mas adverte que o cuidado deve ser redobrado.
Jararaca
No Cariri, a principal responsável pelas picadas é a Jararaca, também conhecida como jararacuçu, urutu, cotiara, caiçara, boca-de-sapo etc. Existem em todo o Brasil e em todo tipo de terreno e vegetação. Sua picada causa inchaço e perda de sangue, inclusive pelas gengivas, explica o biólogo Roque Morais, acrescentando que tratamento é feito com soro antiofídico, o soro antibotrópico (específico).
Outra cobra facilmente encontrada na região é a cascavel, identificada pelo chocalho característico em sua cauda. Os sintomas da picada são a dificuldade de abrir os olhos, a visão dupla, e a urina escurecida. O tratamento consiste na aplicação do soro anticrotálico ou do soro antiofídico polivalente.
Os sintomas do envenenamento variam, dependendo do tamanho e espécie da cobra, quantidade e toxicidade do veneno injetado, da localização da mordida, idade e compleição física da vítima e da presença de outros problemas médicos. A maioria das picadas localiza-se na mão ou no pé. A região incha em 10 minutos. Os sintomas raramente demoram de 20 a 30 minutos para se manifestarem. A dor varia de leve a intensa. O envenenamento moderado a grave por veneno de cobra crotalídea geralmente produz equimose na pele, que pode surgir 3 a 6 horas após a picada. A pele em torno da picada parece tensa e muda de cor. Pode ocorrer a formação de bolhas na área da picada em 8 horas e, frequentemente, apresentam sangue no seu interior. A falta de tratamento pode acarretar destruição do tecido circundante e formação de coágulos de sangue nos vasos sangüíneos.
As picadas de cobra venenosa são emergências médicas que exigem atenção imediata. Antes de iniciar o tratamento, a equipe médica deve tentar determinar se a cobra era venenosa e se ocorreu injeção de veneno. Quando o veneno não foi injetado, o tratamento é o mesmo de um ferimento puntiforme, isto é, uma limpeza meticulosa e a aplicação de uma dose de reforço da vacina antitetânica. Uma vítima de uma picada de cobra crotalídea deve manter-se o mais calma e quieta possível, aquecida e deve ser transportada imediatamente ao serviço médico mais próximo.
O membro picado deve ser imobilizado, sem ser apertado demasiadamente, e mantido abaixo do nível do coração. Anéis, relógios e roupas apertadas devem ser removidos e nenhum estimulante deve ser administrado. Um extrator de Sawyer (dispositivo que aspira ao veneno do local da mordida) deve ser aplicado sobre a mordida em 5 minutos e mantido de 30 a 40 minutos, durante o transporte para o hospital.
MAIS INFORMAÇÕES
Centro de Zoonoses do Cariri
Avenida Thomas Osterne de Alencar, Bairro São Miguel, Crato
(88) 3521.2698
PICADAS
´Curador´ ainda é procurado
Crato. As cobras possuem características que sempre fascinaram os seres humanos, desde o começo dos tempos. Algumas dessas características acabam por levar a superstições, lendas e até mesmo a mitos religiosos. Daí a origem do "curador" de cobras, homem que, segundo o imaginário popular, é capaz de curar pessoas picadas por serpentes venenosas.
Benzedor, curador ou simplesmente rezador é uma atividade comum no sertão. Cuspir na boca de uma pessoa picada de cobra e rezar fazem parte da cultura sertaneja, prática que tem origens no sincretismo religioso, fenômeno bastante comum, fundamentado nas crenças de religiões tradicionais africanas e nos rituais da fé católica, religião predominante no Brasil. O vaqueiro aposentado Antônio André do Nascimento, conhecido como Antônio de Santa, residente no Sítio Romualdo, a 20 quilômetros do Crato, é o mais procurado curador de pessoas vítimas de picadas de cobras.
Num raio de 50 quilômetros, mais de 20 pessoas se dizem curadas por "Seu Antônio". Uma delas é Antônio Carlos Felinto, que foi picado por uma jaracuçu, quando tinha 15 anos de idade. Hoje, com 22 anos, ele afirma que deve a vida ao velho vaqueiro que cuspiu na sua boca, quando todos imaginavam que não tinha mais jeito.
É isso mesmo. O método usado por Antônio de Santa para curar as pessoas é cuspindo na boca do paciente. Antes, ele coloca um pedaço de fumo na boca para melhorar o efeito. A cuspida é acompanhada de uma reza. "O resultado é tiro e queda", garante o velho vaqueiro.
Nascido no município de Jardim, numa época em que médicos e medicamentos era difíceis, Antônio André foi picado, no dedo, por uma cobra jararaca com nove anos de idade. O fato de não ter morrido, alimentou a crendice de que ele era curador, isto é, tinha poderes sobrenaturais sobre as cobras. A partir de então, começou a sua trajetória de curador que se estendia também aos animais.
Este poder de cura, segundo afirma, está no sangue. Por isso, ele está repassando para os filhos, como Carlos Alberto Teixeira, que além de "curar" vítimas de picadas de cobras, manteve, durante 30 anos uma cobra coral dentro de um vidro com cachaça que era bebida como remédio para todos os males. O medicamento a base de cobra e cachaça chegou ao fim porque uma criança quebrou o vidro com a cobra dentro.
Antônio Vicelmo
Repórter
Economia
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